outubro 04, 2010

Nijinsky – casamento com Deus
Provocação cênica e dramatúrgica – 30 de setembro de 2010
(tiago luz)
“Nijinski - Casamento com Deus” aborda a genialidade, a arte e a espiritualidade mediante a inter-relação do corpo, da dança e da gestualidade com o espaço cênico, sua topografia, o objeto em cena, a música, a sonoridade e a iluminação. Elementos que compõem imagens cênicas que tentam traduzir as concepções de Nijinski sobre morte, medo, loucura, amor, a própria humanidade e Deus. Figura capital na história da dança, bailarino insuperável, coreógrafo ousado, que anteviu as conseqüências do processo de industrialização para o corpo e para o movimento, não apenas no universo da dança ou da arte, mas também para a própria vida. Uma personalidade que atraía a admiração atônita de todos com a mesma intensidade com que absorvia as questões mais caóticas e desafiadoras que o mundo à sua volta propunha ao seu tempo. Um gênio que apresentou toda uma concepção metafísica do homem em seus escritos e na cena.
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Quando o público entra na sala, o homem já está no palco. Estático ou caminhando muito lentamente. Há pouca luz, não enxergamos bem. Sobre o palco, e sobre o homem, é projetada uma imagem de galáxia, nebulosa, que gira eternamente. Pode ser que um desenho de mapa astral se intercale com a galáxia. Parece haver gelo seco, daquele que fica bem próximo ao chão. Primeiro sinal. “Deus é um fogo na cabeça” Segundo sinal. Ouve-se um som. Um cometa passou? A voz de Deus? O homem permanece no seu estado. A galáxia gira. Todos respiramos. O gelo começa a se dissipar, revelando o espaço. Terceiro sinal. Enquanto se ouvem os avisos de segurança, desligamento dos aparelhos sonoros etc., a nebulosa vai desaparecendo. Resta o homem no espaço. O homem e alguns objetos. Com um pouco mais de luz é possível reconhecer uma raquete de tênis, um delicado chapéu feminino, um grande recipiente com gelo, parece gelo, dentro. O olhar do homem percorre o espaço e nos percorre. O homem olha para o alto. O que tem lá? Respira. Respiramos todos. No silêncio, parece silencioso, mas se houvesse um som ele não seria reconhecível, o homem começa a caminhar pelo espaço. Procura algo? Sente-se preso? Célula de Procura I sem direção – pra onde ir? Linhas. Vetores. Contradições. cachorro – não exita. Vai! Deus – onde está deus? De repente ele parece voltar a ser criança. Está ansioso, como um menino que descobriu alguma coisa. Olha de novo para o alto. Parece ser repreendido. Culpado. O homem reaparece. Parece cansado. Volta a procurar. Ele pensa: Sei que todo mundo vai pensar que tudo é inventado, mas devo dizer que tudo é a pura verdade, pois eu vivi tudo isso na prática. Respira. Respiramos todos. Corre até a raquete de tênis. Assusta-se. Encontra um monte de moedas. Reflete. Parece não saber o que fazer com elas. Corre pelo espaço circular com as moedas em mãos. Teria roubado? Estaria levando para alguém? Escolhe um ponto do espaço e delimita um espaço também circular com as moedas. Coloca-se dentro desse espaço. Fogueira. Confinamento. Ali, ele dança. Fim da dança. Olhar para o alto, como alguém pedindo aprovação. Sem direção. Cachorro. Deus. Culpado. Decidido, se dirige a um ponto do espaço. Aos poucos vemos a sua alma. O homem está doente da alma – consciente da própria doença emocional. Confuso. Triste por não ser compreendido. Isolado. Cansado. Ele pensa: Fugi de casa, pois minha mulher não me compreendeu. Minha mulher me atrapalha, porque sente. Teve medo de mim, e eu tive medo dela. Fugi de casa. Não fui compreendido. O homem está no chão. Teria morrido? Alguma força o convoca a ficar de pé. Ele corresponde imediatamente. E agora? Célula de procura II Sem direção – a contradição se instala no meu corpo Deus – onde você está? Procuro conselho. Procuro uma companhia autêntica. Fome – uma escolha? Frio na orelha – ou “Deus é um fogo na cabeça” De repente ele parece voltar a ser criança. Está ansioso, como um menino que descobriu alguma coisa. Um par de sapatos! Ele calça os sapatos e continua dançando. O homem com sapatos coloridos se dirige ao recipiente com gelo. Lentamente, como se penetrasse as memórias de sua infância. Uma alegria nos invade. O menino brinca com o gelo. O menino brinca outros meninos que, de tão presentes para ele, se tornam visíveis para nós. O menino desaparece como mágica. Resta o homem. Ele parece confuso. Sem direção. Deus. Fome. Frio na orelha. Ele sente que algo o incomoda no seu corpo. Parece cansado. Volta a procurar. Anda em círculos. Quer se sentar. É o que parece. O homem corre até uma parte do espaço e cria uma pequena elevação. O homem quer subir. Ele parece buscar alguma coisa lá em cima. Ele fica desesperado. Volta a tentar se sentar. A inclinação do espaço não ajuda muito. Ele rola. O homem encontra mais moedas no espaço. Ele desenha outro circulo de moedas, se coloca no meio delas e dança. Mesma fogueira. Outro ângulo. Quando o homem termina de dançar, ele junta todas as moedas do espaço e as deposita próximo do delicado chapéu feminino. Ele se volta para o alto. Para deus? Sim. E ele começa a subir. A buscar se aproximar do que está no alto. Mas o homem cai. Deus com queda! Ao sentar-se, o homem parece estar segurando livros em suas mãos. Ele se relaciona com os livros: É a sua última ponte com os humanos. Desconfiança e confusão. O homem precisa – precisa? – se livrar deles. Uma luta entre o que ele sente e o que ele pensa. Um chilique? Por fim, ele parece entregar os livros para o delicado chapéu feminino. Um grito! Raiva ou dor? Tudo isso e nada disso... O homem está triste. Olha para o alto. Espera alguma coisa. Quer ouvir alguma coisa, qualquer coisa. Ele volta a procurar. Célula de procura III Sem direção – linhas que rasgam meu corpo. Deus – posso me aproximar? Preciso de um lugar pra descansar. Frio – dor e delícia. Mau cheiro – do mundo? Meu próprio? Reloginho – tempo. O homem para diante da raquete de tênis. Parece que chora. Sem direção. Deus. Frio. Mau cheiro. Reloginho. O homem se dirige à elevação. Ele quer subir. Como não consegue, o homem se dirige a um canto do espaço e parece sentar-se como alguém que ficará sentado para sempre. De repente, o homem sente uma força que o levanta. Ele se põe a caminhar. O homem encontra charretes carregadas de madeira. Caminha ao lado delas. OFF: que o homem descendo do macaco, não foi Nietzsche quem disse, mas Darwin. Perguntei a minha mulher hoje de manhã, pois tive pena de Nietzsche. Gosto de Nietzsche. Ele não me compreenderá, pois pensa. Darwin é um sábio. Minha mulher disse que ele escrevia coisas sábias em francês, isso se chama História da natureza. A natureza de Darwin é inventada. A natureza é a vida, e a vida é a natureza. Eu amo a natureza. Sei o que é a natureza. Compreendo a natureza, pois sinto a natureza. A natureza me sente. A natureza é Deus, eu sou a natureza. Não gosto da natureza inventada. Minha natureza está viva. Eu estou vivo. A natureza é uma coisa soberba. O homem vê um cavalo. Ele se torna o próprio cavalo. OFF: a natureza é a vida. A vida é a natureza. O macaco é a natureza. O homem é a natureza. O macaco não é a natureza do homem. Eu não sou o macaco no homem. O macaco é Deus na natureza, pois sente os movimentos. Eu sinto os movimentos. Meus movimentos são simples. Os movimentos do macaco são complicados. O macaco é bicho. Eu sou bicho, mas sou dotado de razão. Sou um ser dotado de razão, e o maçado não é dotado de razão. Creio que o macaco descende da arvore, o homem, de Deus. O homem tem mãos e o macaco também. Eu sei que, pelas matérias orgânicas, o homem parece com o macaco, mas pelas do espírito, não parece. O cavalo volta a ser homem. O homem olha para o alto. As mãos seguem o movimento do olhar. O corpo todo parece querer subir. Ele sente que algo o incomoda no seu corpo. Parece cansado. Ele volta a correr pelo espaço circular. O homem se dirige à elevação. Ele quer subir. Subir parece ser sua única saída. De novo ele sente que algo o incomoda no seu corpo. Ele tira o mesmo papel. Parece ser uma carta. O homem parece ler a carta em silêncio. Ele se dirige ao delicado chapéu feminino. Respira. Respiramos todos. O homem desiste da carta. Sem direção. Deus. Frio. Mau cheiro. Reloginho. Ele pensa: Sou um homem, e não Deus. Quero ser Deus, por isso trabalho sobre mim mesmo. Quero dançar. Quero desenhar. Quero tocar piano. Quero escrever versos. Quero compor balés. Quero amar todo mundo. É meu objetivo na vida. Eu sou Deus. Eu amo todo mundo. Não admito fronteiras nos Estados. Eu sou o globo terrestre. Sou a terra. Ele volta a correr pelo espaço circular. O homem se dirige à elevação. Ele quer subir. Subir parece ser sua única saída. O homem realiza movimentos frenéticos e repetitivos, sempre na tentativa de subir. OFF: Tenho casa em toda parte. Moro em toda parte. Não quero possuir nada, não quero ser rico. Quero amar, amar. Eu sou o amor, e não a ferocidade. Não sou uma besta sedenta de sangue. Eu sou um homem. Sou um homem. Deus está em mim, e eu estou Nele. Eu o quero. Eu o busco. Quero que publiquem meus manuscritos, pois sei que todo mundo pode ler, mas espero o melhoramento. Não sei o que é preciso para isso, mas sinto que Deus os ajudará em suas buscas. Eu sou um buscador, pois sinto Deus. Deus me procura, por isso nós nos encontramos um ao outro. Eu penso pouco, por isso compreendo tudo o que sinto. Sou o sentimento na carne e não a inteligência na carne. Eu sou a carne. Eu sou o sentimento. Eu sou Deus na carne e no sentimento. Eu sou um homem, e não Deus. Eu sou simples. Não é preciso me pensar. É preciso me sentir, me compreender através do sentimento. Os sábios refletirão sobre muitas coisas, e quebrarão a cabeça, pois o fato de pensar não lhes dará resultado algum. Eles são bichos. São bichos. São vianda. São a morte. Eu falo simplesmente e sem nenhuma macaquice. Eu não sou um macaco. Sou um homem. O mundo descende de Deus. O homem vem de Deus. Aos homens é impossível compreender Deus. Deus compreende Deus. O homem é Deus, por isso compreende Deus. Eu sou Deus. Eu sou um homem. Eu sou bom, e não um bicho. Sou um animal dotado de razão. Tenho uma carne. Sou a carne. Eu não descendo da carne. A carne descende de Deus. Eu sou Deus. Eu sou Deus. Eu sou Deus... O homem para repentinamente próximo do delicado chapéu feminino. Ele tira a carta e lê: À minha querida e bem-amada Romuchka. Eu a irritei de propósito, porque a amo. Quero sua felicidade. Você tem medo de mim, porque eu mudei. Mudei porque Deus o quis. Deus o quis, porque eu o quis. Você chamou o Dr. Fränkel. Acreditou num estranho, e não em mim. Você pensa que ele está de acordo com você. Ele está de acordo comigo. Tem medo de mostrar à mulher dele que não sabe nada. Tem medo de mostrar à mulher dele que não é nada. Eu não tenho medo de abandonar todos os meus estudos e de mostrar a todo mundo que eu não sabia nada. Não quero dançar como antes, pois todas essas danças são a morte. Morte não é só quando o corpo morre. O corpo morre, mas o espírito vive. O espírito é uma pomba, mas em Deus. Eu sou Deus, e estou em Deus. Você é uma mulher como todas as outras. Eu sou um homem como todos os outros. Trabalho mais que os outros. Sei mais que os outros. Você me compreenderá mais tarde, pois todos dirão que Nijinsky é Deus. Acreditará e estará de acordo. Vai ficar entediada, pois não quer trabalhar. Quero passear com você, você não quer passear comigo. Acha que estou doente. Acredita nisso porque o Doutor Fränkel lhe disse que eu estava doente. Ele pensa que eu estou doente, porque pensa que eu estou doente. Escrevo-lhe em meu caderno, pois quero que leia em russo. Aprendi a falar francês. Você não quer falar em russo. Eu chorava quando sentia seu russo. Você não gosta quando eu falo húngaro. Eu gosto da língua húngara, quero a língua húngara, pois você é a língua húngara. Quero viver na Hungria. Você não quer viver na Hungria. Quero viver na Rússia, você não quer viver na Rússia. Você não sabe o que quer, já eu sei o que quero. Eu quero construir uma casa. Você não quer viver na casa. Pensa que eu sou tolo, já eu penso que você é idiota. Uma idiota é uma coisa horrível. Eu sou tolo, mas não sou idiota. Você é idiota, mas não é tola. Eu sou tolo, eu sou tolo. Um homem tolo é um cadáver, e eu não sou um cadáver. Cadáver, cadáver, cadáver, e eu não sou um cadáver. Eu não lhe desejo mal. Eu a amo a você a você. Você não me ama, não me ama não. Eu a amo, eu a amo. Você não quer mostrar que me ama, que me ama. Quero dizer que você me ama, você me ama. Quero lhe dizer que eu a ama, que eu a amo. Eu a amo a você a você. Eu a amo a você a você. Quero lhe dizer que você ama a mim e a mim. O homem termina de ler e deixa a carta cair no chão.

setembro 24, 2010

Desenhos de Nijinski

Sobre os desenhos de Nikinski

George Barbier's first illustrated book:
Designs on the Dances of Vaslav Nijinsky Dance of Colours. Nijinsky's Eye and Abstraction 20 May to 16 August 2009 Hubertus-Wald-Forum On 19 May 1909, the Russian dancer Vaslaw Nijinsky (1889-1950) and the ballet company Les Ballets Russes had their European premiere in Paris. Nijinsky immediately became an unrivalled star on the stages of Europe, and ranks as the most important dancer of the twentieth century until today. Apart from his exceptional career as a dancer and choreographer, Nijinsky also created large numbers of coloured paintings and gouaches in 1918 and 1919. These works are here for the first time presented comprehensively. With finely-drawn coloured circles and ellipses and strongly-coloured plane surfaces, Nijinsky produced series of images where space and line are interwoven and rhythm and colour are transformed into a painted choreography of intense emotions. Nijinsky’s highly impressive paintings are here for the first time presented in the context of modern art in Paris after 1910. Around 100 drawings by Nijinsky, mostly from the Foundation John Neumeier, will be juxtaposed with important paintings by the Russian artists Sonia Delaunay-Terk, Alexandra Exter, Vladimir Baranov-Rossiné, Léopold Survage and the Czech painter Frantisek Kupka. Like Nijinsky at times, these painters lived in Paris between 1910 and 1925 and worked on the themes of dance, rhythm and motion in a highly abstracted manner. Strong colours, arches, concentric circles, ellipses and sweeping curves dominate their compositions. The paintings are marked by a strong, rhythmic accent and call to mind a dance motion or the musical progression of a film sequence. In their dynamism the physical presence of the human figure on the canvas links up with the light, the shapes and the vibrations of the cosmos to build up to a stirring dance of colours. The exhibition offers an entirely new perspective on the origins of abstraction from dance. It is a unique contribution to the worldwide events that mark the centenary of the Ballets Russes’ spectacular debut in Paris. The historic personality of Nijinsky, the outstanding dancer of the twentieth-century, comes alive in a separate section of the exhibition in photographs, posters, paintings and sculptures by leading artists of Nijinsky’s time, on loan from the private collection of John Neumeier. Curators of the exhibition: Prof. Dr. Hubertus Gaßner und Dr. Daniel Koep

Nijinski como tema

agosto 25, 2010

Links do Tiago Luz

http://www.vimeo.com/12172609  http://www.vimeo.com/12174668
Esses dois links são muito interessantes para pesquisa, das primeiras contribuições
de Tiago. Tem remontagens das coreografias do Nijinski.